Soberania à prova
Crédito: Ricardo Stuckert
Estamos nos aproximando de mais uma celebração do 2 de Julho, a maior data da Bahia e o episódio da nossa história que marca a verdadeira independência do Brasil. Após dois anos sem celebrações, por conta da pandemia, este ano finalmente voltaremos a realizar o tradicional cortejo, que além de ser parte fundamental da nossa cultura, nos permite revisitar a própria história. Enfim, ocuparemos as ruas, caminhando da Lapinha ao Campo Grande, homenageando heróis e heroínas.
Nada mais oportuno, portanto, do que contarmos, neste dia tão importante, com a presença daquele que melhor simboliza a volta da prosperidade e da esperança. Neste 2 de julho estaremos com Lula na Bahia, não só comemorando conquistas do passado, mas também para olhar para o futuro e fortalecer a luta para reconstruir um País que volte a garantir dignidade à nossa gente, sobretudo aos que mais precisam.
O 2 de Julho é um episódio que se caracteriza pelo sentimento emancipador do povo baiano e é também o momento onde consagramos definitivamente o Brasil como protagonista de seu próprio destino. Se mesmo após dez meses daquele tão aclamado grito de Dom Pedro às margens do Ipiranga, no 7 de setembro, um pedaço do País ainda lutava para superar sua condição de colônia, então, é fato notório que o Brasil ainda não estava totalmente independente.
É preciso reconhecer que a real independência da Bahia e do Brasil só foi assegurada a partir de Cachoeira, em 25 de junho de 1822. Há exatos 200 anos, enquanto Salvador estava sitiada por tropas portuguesas e submetida à ditadura do general Madeira de Melo, o povo e a Câmara de Cachoeira se insurgiram contra Portugal, conclamando as vilas do Recôncavo e, depois, as vilas do Sertão para formarem o Conselho Interino de Governo da Província da Bahia.
É fundamental reconhecermos que sem o 25 de junho não existiria o 2 de julho. Sem brasileiros dispostos à luta no Recôncavo Baiano não teríamos um Brasil unificado hoje. Por esse motivo que, a partir de 2007, no meu primeiro ano como governador da Bahia, instituímos uma lei transferindo oficialmente a sede do governo estadual para Cachoeira todo dia 25 de junho. Um ato simbólico, que passamos a repetir anualmente, em justo reconhecimento a esta que ficou conhecida como a “Cidade Heroica”.
Nesse mesmo sentido, tenho orgulho de ter sido o governador que sancionou, em 2010, a lei que instituiu o Hino ao 2 de Julho como o oficial da Bahia. Composição que em sua letra faz alusão às batalhas de Cabrito e de Pirajá as quais, com o sangue baiano, foram fundamentais para que conseguíssemos avançar na consolidação da verdadeira independência.
Além disso, temos aqui no nosso estado outro hino igualmente importante para a população, que é o Hino ao Senhor do Bonfim. Para além de sua dimensão religiosa, é curioso o fato de que ele foi composto justamente para celebrar o centenário do 2 de Julho, em 1923. Tanto é que, numa das suas passagens, a letra diz: “nossos pais conduziste à vitória pelos mares e campos baianos”.
Tudo isso integra nosso desafio de tornar esta data reconhecida nacionalmente. A história prova e ensina que foi na Bahia, com a vitória do nosso Exército e nossa Marinha, que consolidamos em definitivo a separação política do Brasil de Portugal. Ainda assim, a verdade é que, fora da Bahia, a data e os eventos a ela relacionados, bem como a própria conexão entre o movimento baiano e a libertação definitiva do Brasil, não possuem merecido reconhecimento.
Por isso, quero aqui relembrar e homenagear os milhares de cidadãos baianos e brasileiros, homens e mulheres de todas as classes sociais da Bahia, negros, indígenas e mestiços que fizeram história ao lado das Forças Armadas e de heróis como João das Botas, Maria Quitéria, Joana Angélica e Maria Felipa. Eterna gratidão aos irmãos e irmãs que combateram bravamente e nos deixaram como legado a firme busca por soberania.
Num cenário hoje marcado por um governo que flerta diariamente com o autoritarismo, que persegue seus adversários, que liquida nosso patrimônio para destruir a soberania nacional e que ataca sistematicamente a democracia, é fundamental resgatarmos a inspiração necessária para seguirmos lutando e resistindo. Não há, portanto, exemplo melhor para isso do que o próprio Hino ao 2 de Julho, que num dos seus versos nos diz que “nunca mais o despotismo regerá nossas ações”.
É com este sentimento e com essa certeza que chegaremos ao dia 2, não o de julho, mas o de outubro. Dia em que, com o nosso voto, faremos ecoar um novo grito de independência.
Jaques Wagner
Senador da República (PT-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal
Artigo publicado na revista Carta Capital, em 01/07/22