Senador Jaques Wagner

 
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11 de fevereiro de 2022 as 12:42 pm

Oportunidade histórica


Olhar com esperança para o futuro não é questão apenas de otimismo, mas de entender o cenário duro que os brasileiros e brasileiras enfrentam atualmente para construirmos soluções reais. Para isso, sempre trago como resposta o tripé de desenvolvimento que equilibra a economia com o social e o ambiental.  Creio que sem essa combinação, a democracia não sobrevive.

É importante reconhecer que vivemos um momento histórico na economia global, com o Estado no centro da retomada econômica e da transição ecológica. Relatório recente da empresa de consultoria McKinsey concluiu que o mundo precisará investir cerca 9,2 trilhões de dólares por ano, de hoje até 2050, para tornar a economia mundial neutra em carbono. Nesse cenário, o Estado cumpre um papel chave de coordenação dos investimentos em parceria com o setor privado.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo prevê investir cerca de R$ 15 trilhões entre infraestrutura e economia verde. A União Europeia deve direcionar mais de R$ 6 trilhões para o Pacto Verde no velho continente. E a China deve colocar mais de 15 trilhões de dólares em economia verde até 2050. Com isso em perspectiva, o PIB do Brasil foi, em 2020, cerca de R$ 7,5 trilhões.

É nesse ponto que alimento a esperança de sabermos que essa é uma oportunidade histórica para o Brasil como Potência Ambiental. E aqui falo de uma transição ecológica brasileira robusta como o principal pilar para uma retomada econômica forte, criando empregos e aumentando a renda dos brasileiros. Somos o país com 60% da Floresta Amazônica, que sozinha tem cerca de 15% de toda a biodiversidade do mundo. Ou seja, ela é sozinha como uma grande Biblioteca de Alexandria, com respostas e avanços tecnológicos para os brasileiros. Destruí-la seria como destruir a biblioteca sem nem ao menos ler os livros!

Temos uma grande oportunidade de retomar a posição de prestígio no mundo que tínhamos, mirando sermos a quinta maior economia do planeta até 2030. Estamos aqui falando num plano econômico de mais de 1,3 trilhões de dólares para o Brasil, segundo a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU), em dez anos. Investimentos estatais e privados na magnitude do PIB brasileiro e que podem gerar cerca de 7,5 milhões de empregos verdes, segundo a Organização Internacional do Trabalho da ONU (OIT).

O primeiro passo é crucial e nós já mostramos ser capazes de realizar: desmatamento zero. Os mais de 33 mil quilômetros quadrados desmatados na Amazônia, desde 2019, e os mais de 8 mil quilômetros destruídos no último ano no Cerrado são uma aberração e motivo de constrangimento para os brasileiros.

Para além da tarefa de zerar o desmatamento, precisamos também afastar a ideia de que somos uma fazenda global ao desenvolvermos capacidades nacionais a partir do investimento em Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação. Isto colocará o Brasil na fronteira do conhecimento, integrando nossas cadeias produtivas às internacionais, gerando complexidade e valor agregado para nossa indústria. Ainda, uma nova agricultura de baixo carbono e orgânica nascerá, garantindo segurança alimentar e ampliando a importância da agricultura familiar para nossa economia.

Somado a isso, um projeto audacioso de país envolve uma transformação em nossas cidades, que englobe uma economia circular com o objetivo de reduzir a produção de lixo, transporte público de qualidade e elétrico, resiliência aos acidentes climáticos e saneamento básico como direitos essenciais.

Finalmente, quero colocar o foco no desafio de criarmos o nosso caminho de bioeconomia como um projeto de Nação. Para nos desenvolvermos e ao mesmo tempo reduzirmos emissões, precisamos dar a nós mesmos e ao mundo a resposta de como produzir a partir de nossa biodiversidade, fortemente fincados no avanço tecnológico da fronteira da inovação e pautados na conservação ambiental.

O Brasil detém cerca de 20% da biodiversidade mundial e mais de 10 mil plantas com potencial farmacêutico. Isso indica ampla oportunidade de exploração sustentável e parte central de qualquer plano de transição para uma matriz econômica descarbonizada.

Para tanto, é imperativo adotarmos medidas com foco no bem-estar do ser humano e do Meio Ambiente – com florestas em pé e rios vivos. Só assim criaremos um consenso para conservação e uso sustentável da Amazônia e dos biomas brasileiros. Este é o grande desafio do Brasil como Nação.

Temos, nessa visão da bioeconomia, a possibilidade de construirmos um projeto ousado de país. Com um novo modelo econômico, ambientalmente responsável, capaz de trazer mais prosperidade para nossa gente. A conjuntura histórica é única. É hora de aproveitarmos a oportunidade e agirmos para uma transição ecológica justa e inclusiva para transformar o Brasil numa Potência Ambiental em favor de seu povo.

Jaques Wagner
Senador (PT-BA)
Artigo publicado na revista Carta Capital, em 11/02/22

 

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