Uma afronta ao país
A venda da Eletrobras, consolidada pelo Congresso vergonhosamente, coloca em risco a soberania nacional, o controle do setor elétrico, a gestão de recursos naturais e, especialmente, o acesso à energia com preço justo. E quem diz isso não é um senador do PT, opositor inequívoco deste governo. A resistência a essa medida uniu partidos de diversas orientações ideológicas, setores da indústria, da imprensa e até mesmo alguns sempre favoráveis às privatizações.
Com lucro de R$ 6,5 bilhões em 2020 e R$ 15 bilhões em caixa, a Eletrobras, com seus indicadores financeiros, pode alavancar mais R$ 40 bilhões em investimentos. Chama a atenção o fato de que os militares, que trabalharam pelo desenvolvimento deste patrimônio nacional durante a ditadura, hoje sejam os protagonistas de sua entrega.
A proposta coloca as térmicas à frente de fontes mais limpas de energia. Mesmo no Nordeste, com altos índices de irradiação solar e regime de ventos ideal para geração eólica. Para além do aumento da conta de luz, que pesará no bolso de consumidores e indústrias, há os impactos ambientais. O Instituto de Energia e Meio Ambiente projeta aumento anual de 24,6% nas emissões de gases pelo setor elétrico.
Federações das Indústrias de SP e RJ alertam que o custo da capitalização sairá muito caro. Na Comissão de Meio Ambiente do Senado, o ex-ministro de Minas e Energia Nelson Hubner usou exemplos de EUA e Canadá para mostrar que o Brasil deve passar por um “tarifaço”. E Miriam Leitão, no jornal O Globo, argumenta que o projeto não faz sentido, pois propõe “construir termelétrica a gás onde não tem gás nem gasoduto”.
Com tantos argumentos, é difícil imaginar como esse monstro legislativo foi aprovado. Mas não surpreende, vide o forte lobby do governo e de empresários, que pensam nos lucros e não na população já tão deprimida com tanta morte, fome e desemprego. Não ouviram a sociedade e aproveitaram a pandemia para passar mais essa “boiada”.
Concluo com frase do atual presidente da República: “a questão da energia elétrica no Brasil, isso simplesmente é estratégico, é vital. País sério nenhum do mundo faz isso”. Ele disse isso em 2018, ano em que se elegeu prometendo acabar com a corrupção e defender princípios cristãos. Como está mais que provado, nada do que ele diz pode ser levado em conta.
Senador Jaques Wagner (PT-BA)
Artigo publicado no Jornal O Povo, em 26/06/2021