Wagner defende política externa sem submissão aos EUA
O Senador Jaques Wagner (PT-BA) defendeu hoje (04), em audiência pública com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, uma diplomacia de conciliação e sem submissão aos Estados Unidos. “Os diplomatas não devem buscar conflitos. Mas o Brasil não deve adotar uma postura “subalterna” aos Estados Unidos”, disse Wagner, na Comissão de Relações Exteriores.
O senador afirmou que passados 100 dias de governo nenhum dos sérios problemas que estão pendentes no Itamaraty foi resolvido. “Com os EUA, o mercado segue fechado às exportações de carne bovina brasileira, e com várias tarifas altas para as exportações de açúcar, e as frutas brasileiras não entram no mercado americano por conta das injustas restrições fitossanitárias. E com a União Européia enfrentamos o fechamento parcial aos exportadores de carne bovina que seguem desabilitados desde a operação Carne Fraca, da Polícia Federal”, lembrou o senador.
Wagner disse ainda que as rodadas de negociações entre o Mercosul e a União Européia seguem em andamento com a Rússia, mas apenas meia dúzia de estabelecimentos foram autorizados a exportar carne suína em fins de 2018, mas outros ainda esperam a vez.
Sobre os entraves às exportações de frango brasileiro que sofrem restrições frequentes de mercados como a África do Sul e Angola, o senador Wagner reclamou que não houve nenhuma providência do governo brasileiro foi adotada e nenhum problema resolvido.
“Ao contrário, parece que o ministro entende que para ter identidade é preciso criar problemas. Mas isso não afirma nossa identidade nacional”, ressaltou Wagner.
“Confesso que prefiro ser conciliador. Sou judeu e sofri muito com os conflitos, pois parte da minha família foi assassinada em campo de concentração. Por isso, prefiro depois da queda do muro de Berlim, trabalhar no sentido da solução dos conflitos. Não acho isso demérito”, frisou.
“O importante é saber se você vai apostar na guerra ou na paz. E pelo que eu ouvi, nossa política aposta no conflito”, acrescentou.
“Não é meu estilo ofender nem achincalhar, mas não posso negar que prefiro os diplomatas que são algodão entre os cristais e não a diplomacia de elefantes em cristaleira. Ao ponto de um general pedir paz e o chanceler apostar no conflito”, criticou o senador.
Wagner comentou ainda as críticas do ministro feitas ao comercialismo com o Mercosul. “Mas nossos exportadores de manufaturados estão no Mercosul, onde temos saldo que gera emprego e renda”, justificou.
Sobre o motivo do convite para falar sobre a defesa feita por Ernesto Araújo para que o Brasil ingresse na OCDE, o senador disse que ao renunciar ao tratamento especial que o Brasil tem na OMC em troca de um “duvidoso” apoio dos EUA para entrar na OCDE, o Brasil rompe com posições históricas de articulação com outros países em desenvolvimento, e além disso, pode prejudicar a indústria, agricultura e o setor de serviços.
“O motivo do meu convite é que estamos trocando o certo pelo duvidoso. Essa briga não é nossa. É do presidente dos Estados Unidos com a China”, comentou. Wagner, entretanto, até elogiou o presidente dos EUA que pelo menos está lutando para gerar emprego dentro de casa. Americano primeiro. Precisamos aqui também dizer, brasileiro primeiro”, alertou.
O senador fez um pedido ao ministro Ernesto Araújo como brasileiro e como ex-governador, para que ele “possa trabalhar pelos interesses do povo e não pela difusão de suas próprias idéias”.
“Estamos chamando para cá conflitos que não são nossos. Creio que estamos trabalhando mas para nos isolar e para termos alinhamento único e automático a um país que em breve terá eleições”, disse o senador, ao criticar o alinhamento de Bolsonaro ao governo Trump.
Ao responder, o ministro Ernesto Araujo disse ser possível manter Israel como grande parceiro sem prejudicar a relação com países árabes.