Wagner destaca humanismo de Lula em declaração do presidente sobre Israel
Foto: Rafael Nunes
Como senador, líder do Governo e judeu, Jaques Wagner (PT-BA) destacou nesta terça-feira (20/2) em Plenário a motivação humanista de busca pelo “cessar-fogo” na declaração do presidente Lula em relação à guerra no Oriente Médio.
Para ele, a posição do presidente está correta, até a última frase, em que fez alusão a Hitler, ao mencionar a ação do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Wagner defendeu “mais diálogo e não a guerra para o enfrentamento dos conflitos”.
Para o senador, “os homens e mulheres deveriam usar mais a mesa de negociação para dirimir seus problemas, sejam de fronteiras, seja o que for, e não ir para a guerra porque, no final, acontece o que está acontecendo. Só morrem inocentes”, disse. Wagner destacou que “morreram inocentes em Israel, com o ato bárbaro terrorista que matou 1.200 e levou algumas centenas de reféns, os quais não sabemos quantos ainda estão vivos”.
Wagner respondeu ainda à fala do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que cobrou uma explicação do presidente Lula sobre sua fala fazendo alusão a Hitler. “Respeito a fala de V. Exa. E não estou tomando ela como reprimenda. Até porque V. Exa. destacou que o Presidente Lula é um líder global e tem trabalhado incessantemente, não só nesse período agora da sua Presidência, mas em outros, pela paz mundial”. E acrescentou: “Até porque a guerra é a derrota da civilização perante a barbárie.”
O senador fez questão de destacar sua origem judaica. “Por outro lado, eu, que sou judeu, defendo a convivência entre dois Estados, que têm que ter o direito de viver, progredir e prosperar”.
O senador lembrou que “no Estado de Israel, não habitam apenas judeus, habitam também católicos, muçulmanos, cristãos e de várias naturezas. E o Estado palestino, onde estão os habitantes palestinos, de diversas religiões também porque nem todos necessariamente são muçulmanos”.
Wagner acentuou que esteve ontem, ao final do dia, com o presidentes Lula. “E o que motivou o presidente, até porque quem assistiu à fala inteira dele, não há nada a ser reparado quando ele se insurge contra o silêncio das Nações da Europa, da Ásia e de outros cantos contra o absurdo que é tentar fazer o olho por olho, dente por dente”, frisou.
Wagner aproveitou para considerar deplorável o ataque terrorista de 7 de outubro. Na sua opinião, “é igualmente deplorável, por qualquer justificativa que seja, a chacina que está se fazendo sobre civis na Palestina”.
Para Wagner, “é como se eu dissesse que, por uma medida de segurança, em qualquer cidade brasileira onde o tráfico estivesse instalado, eu vou bombardear a cidade para matar o traficante. Seguramente o traficante fugirá antes e morrerão civis. E já morreram 30 mil [palestinos na Faixa de Gaza]”.
Wagner chamou atenção para a morte de crianças e senhoras que valem tanto quanto crianças e senhoras judias que morreram no Estado de Israel. “Não vamos comparar seres humanos aqui. Todos merecem o respeito de todos nós.”
O senador disse que se sentia à vontade sobre a fala do presidente Lula. “Estou neste partido há 45 anos, sou amigo do presidente Lula há 45 anos e tive a naturalidade de ontem visitá-lo e dizer: ‘Não tiro uma palavra do que V. Exa. disse, a não ser o final’”. Na sua opinião, o episódio do Holocausto não cabe em nenhuma comparação, “porque fere sentimentos, inclusive meus, de familiares perdidos naquele episódio, que era uma máquina da morte, com câmaras de gás”.
O senador comentou que, “dentro do Estado de Israel, a posição do primeiro-ministro Netanyahu não é unânime, muito pelo contrário”. Segundo ele, o dirigente de Israel, “para conseguir montar o seu governo — e eu não vou me imiscuir nas questões internas de Israel —, precisou chamar os ortodoxos religiosos, que é a extrema-direita”.
Wagner disse não saber se a intenção do premier israelense é fazer uma limpeza étnica. Mas lamentou a destruição do norte de Gaza, que já está todo no asfalto.
“Os prédios, edifícios, já foram todos derrubados, aterrados, com asfalto passado por cima”, advertiu.
“A comparação feita não é pertinente, mas a morte de civis, crianças, homens e mulheres na Faixa de Gaza é um absurdo sob a desculpa de caçar o Hamas”, acentuou.
O senador relembrou que no episódio do 11 de setembro, os Estados Unidos, como o império que são, foram caçar Bin Laden e mataram Bin Laden, mas não saíram matando populares”.
Wagner insistiu que “o povo precisa é de desenvolvimento, de prosperidade. É isso que vai evitar a guerra”.
“Eu não tiro uma linha do que ele [Lula] disse, porque como judeu me sinto ofendido. O povo judeu não pode comungar com o assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido… não só nós, porque foram Testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina de morte”.
O líder registrou ainda que “a motivação presidente Lula é a busca do cessar-fogo”, e lembrou que, nesta terça-feira, mais um cessar-fogo foi interditado pelo veto dos Estados Unidos da América, que propuseram um colegiado de 16 países para tentar intermediar. “Amém. Que os 16 países cheguem a um denominador comum, porque nós não podemos ficar vendo civis, inocentes, morrendo, como morreram em 7 de outubro e vêm morrendo sucessivamente através do ataque do Exército israelense”, pontuou.
“Estou muito à vontade — não misturo as coisas — para dizer que nós não podemos ser humanos apenas para os nossos, nós temos que ser humanos defendendo a todos os seres humanos”, concluiu Wagner.