Lula cobra na ONU ação efetiva para combater a fome e a mudança do clima
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Com um forte apelo ao mundo pelo fim da fome, pela defesa do meio ambiente, pelo fortalecimento da democracia e pela paz, o presidente Lula fez um discurso histórico na abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (24), em Nova York.
Ao apresentar um diagnóstico preciso dos principais entraves sociais, econômicos e políticos da humanidade, Lula fez uma cobrança enfática por uma ampla reforma da ONU.
“Não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança global”, afirmou o presidente (leia aqui a íntegra)
Presente na sessão de abertura, o líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), considera que o presidente reforçou o protagonismo do Brasil no ambiente internacional.
“O presidente Lula fez um discurso de estadista, à altura do prestígio que tem em todo o mundo. Que suas palavras ecoem entre as demais autoridades mundiais para que se convençam de mudar em direção a um planeta sustentável, justo, igualitário e solidário”, disse.
Para ele, a reforma da ONU é essencial para o futuro da humanidade. “Depois de quase 80 anos, a ONU precisa reagir para voltar a ser um fórum universal para evitar e encerrar guerras, promover a paz, acabar com a fome e a miséria, controlar o uso de inteligência artificial e garantir desenvolvimento econômico para todas e todos”, afirmou.
Propostas para a ONU
Para além do discurso, Lula listou as propostas do Brasil para a reconstrução da ONU:
- Transformação do Conselho Econômico e Social no principal foro para o tratamento do desenvolvimento sustentável e do combate à mudança climática, com capacidade real de inspirar instituições financeiras.
- Revitalização do papel da Assembleia Geral, inclusive em temas de paz e segurança internacionais
- Fortalecimento da Comissão de Consolidação da Paz
- Reforma do Conselho de Segurança, com foco em sua composição, métodos de trabalho e direito de veto, de modo a torná-lo mais eficaz e representativo das realidades contemporâneas
Lula foi interrompido três vezes por aplausos: quando elogiou a presença, pela primeira vez, da delegação da Palestina no encontro, quando lembrou que desde a criação da entidade, nunca houve uma mulher no cargo de Secretária-Geral, e quando considerou inaceitável a ausência de países da América Latina e da África no Conselho de Segurança, um dos alvos centrais de uma eventual reforma.
O presidente também cobrou a taxação dos super ricos para acabar com a fome no mundo, cobrou o cumprimento dos acordos para combater as mudanças climáticas, alertou sobre o avanço do negacionismo e criticou a falta de regulação de plataformas digitais.
Urgência climática
Ao lembrar que o Brasil sediará a COP-30, em 2025, o presidente Lula se disse convicto de que “o multilateralismo é o único caminho para superar a urgência climática”.
Mas advertiu: “O planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global”.
Lula lamentou o fato de os gastos militares globais terem crescido pelo 9º ano consecutivo e atingirem US$ 2,4 trilhões. Além disso, mais de US$ 90 bilhões foram mobilizados com arsenais nucleares. “Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima”, comparou.
O presidente também enfatizou que o planeta tem dado claros sinais da urgência da questão climática, pontuando que o ano de 2024 caminha para ser o mais quente da história moderna.
“Furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de mortes e de destruição. No sul do Brasil tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. [O planeta] está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chega” alertou o presidente.
Combate à fome
Tema caro para o presidente Lula e o governo brasileiro, o combate à fome no mundo também foi destaque do pronunciamento de abertura da Assembleia Geral da ONU.
Lula lembrou que, hoje, o mundo produz alimentos mais do que suficientes para promover a erradicação da fome. O que falta, segundo ele, é criar condições de acesso aos alimentos.
“A fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Este é o compromisso mais urgente do meu governo: acabar com a fome no Brasil, como fizemos em 2014”, enfatizou.
Em Gaza, direito de defesa virou “direito de vingança”
Em relação à paz e segurança, o presidente Lula abordou alguns dos principais conflitos mundiais. Ele afirmou que em Gaza e na Cisjordânia, territórios palestinos, está “uma das maiores crises humanitárias da história recente e que agora se expande perigosamente para o Líbano”.
O líder brasileiro disse que “o que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino”.
Para Lula, “o direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo”.
Ao abrir seu discurso, Lula se dirigiu à delegação palestina, lembrando que ela integra pela primeira vez uma sessão de abertura “na condição de membro observador”.
Liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras
Durante o discurso, o presidente Lula também criticou abertamente as plataformas digitais como ferramentas de disseminação do “ódio, a intolerância e o ressentimento”. O presidente afirmou categoricamente que o Estado brasileiro não se intimida com plataformas que “se julgam acima da lei” e conceituou a questão: “A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras”.